Busco, neste artigo, refletir a respeito dos denominados cães “ferais”, ou “selvagens”, a partir de seu papel ativo na construção, alteração e co-constituição de paisagens – argentinas, brasileiras e ...chilenas. Mobilizo, principalmente, o conceito de “arquiteturas da domesticação”, e proponho que também pensemos tais arquiteturas como infraestruturas “contra a invasão”. Se, por um lado, cercas, correntes e outros artefatos criam relações de domesticidade, por outro eles também podem vir a desvelar outras formas de interação – cercas também são sobre evitar a entrada de outrem, e, portanto, manter a divisão dentro x fora. A partir de etnografia realizada na Província da Terra do Fogo (Argentina), onde me deparei pela primeira vez com os tais dos perros salvajes, tenciono, nas páginas que se seguem, discutir e tecer conexões com outros contextos nos quais cães feralizados também tomam parte: as reservas florestais brasileiras e certas zonas rurais no Chile. Tais conexões, a meu ver, importam no sentido de que podem, quiçá, ajudar a suprimir lacunas nos estudos animais a respeito da convivência humano-animal com as tais das “espécies exóticas invasoras”, e, por conseguinte, do que estes animais estão fazendo e podem fazer. Tendo em conta que o selvagem e o feral são segmentos de um sistema de relações mais amplo, minhas intenções, aqui, são apontar para a amplitude da interação desses animais com os ambientes que co-constituem e continuamente reconfiguram com humanos e outros não humanos. Sugiro, neste artigo, que os processos de constituição de paisagens multiespécies não são somente sobre inclusão, mas, também, sobre exclusão.
Busco, neste artigo, refletir a respeito dos denominados cães “ferais”, ou “selvagens”, a partir de seu papel ativo na construção, alteração e co-constituição de paisagens – argentinas, brasileiras e ...chilenas. Mobilizo, principalmente, o conceito de “arquiteturas da domesticação”, e proponho que também pensemos tais arquiteturas como infraestruturas “contra a invasão”. Se, por um lado, cercas, correntes e outros artefatos criam relações de domesticidade, por outro eles também podem vir a desvelar outras formas de interação – cercas também são sobre evitar a entrada de outrem, e, portanto, manter a divisão dentro x fora. A partir de etnografia realizada na Província da Terra do Fogo (Argentina), onde me deparei pela primeira vez com os tais dos perros salvajes, tenciono, nas páginas que se seguem, discutir e tecer conexões com outros contextos nos quais cães feralizados também tomam parte: as reservas florestais brasileiras e certas zonas rurais no Chile. Tais conexões, a meu ver, importam no sentido de que podem, quiçá, ajudar a suprimir lacunas nos estudos animais a respeito da convivência humano-animal com as tais das “espécies exóticas invasoras”, e, por conseguinte, do que estes animais estão fazendo e podem fazer. Tendo em conta que o selvagem e o feral são segmentos de um sistema de relações mais amplo, minhas intenções, aqui, são apontar para a amplitude da interação desses animais com os ambientes que co-constituem e continuamente reconfiguram com humanos e outros não humanos. Sugiro, neste artigo, que os processos de constituição de paisagens multiespécies não são somente sobre inclusão, mas, também, sobre exclusão.
Abstract This study examines dogs that pull sledges in tourist activities in Ushuaia (capital of Tierra del Fuego province) and their relations with their breeders (the mushers) and with the tourists ...they both work for. Nevertheless, during my field research I also came across other dogs in other contexts, among them the numerous companion dogs abandoned in the city and the so-called “wild dogs”, who live in rural areas and are thus seen by Fuegians as “harmful animals” and an “invasive alien species” - that is, a problem to be solved. In this paper I consider sled dogs and wild dogs, and the different statuses that dogs can assume in these different contexts in which animals and humans relate, considering that in Tierra del Fuego canine work operates as a domesticity regime.
Resumo O tema deste trabalho são os cães que puxam trenós na atividade turística em Ushuaia (capital da Província da Terra do Fogo/Argentina) e suas relações com seus criadores (os mushers) e com os turistas, para os quais ambos trabalham. No entanto, durante minha permanência em campo deparei-me também com outros cães em outros contextos, dentre eles os inúmeros cães de companhia abandonados na cidade e os “cães selvagens”, que habitam as zonas rurais e constituem, para os fueguinos, “animais daninhos” e “espécie exótica invasora” - ou seja, um problema a ser resolvido. Destarte, neste artigo proponho-me a pensar, com atenção especial aos cães de trenó e aos cães selvagens, quais são os diferentes estatutos que os cães podem vir a assumir nesses contextos diversos em que animais e humanos se relacionam, tendo em conta que, na Terra do Fogo, o trabalho canino opera como um regime de domesticidade.