Neste artigo, utilizando dados da lírica profana galego-portuguesa, analisamos os usos modais do morfema -ra no eixo passado, considerando-se seus significados de passado conjuntivo, passado ...condicional, passado volitivo e passado anterior ao momento de fala, bem como investigamos os efeitos do tipo de cantiga, do item lexical e da polaridade na configuração desses usos modais. Nossos dados provêm das cantigas profanas disponíveis no Tesouro Medieval Informatizado da Língua Galega e no projeto Edição, Atualização e Preservação do Património Literário Medieval Português. Os resultados apontam maior frequência modal de -ra em cantigas de amor, especialmente nas funções condicional, volitiva e conjuntiva, por vincularem-se a segredos amorosos, diferentemente das de escárnio e maldizer, que exibem um estilo mais direto. Em relação à análise lexical, nossos resultados indicam que, na função volitiva, ganham destaque os verbos modais; nas demais funções, predominam verbos de estado, cognitivos e sensitivos, em oposição aos verbos de ação e processo, mais utilizados quando o -ra codifica funções temporais. Ademais, há mais usos de -ra modal em contextos de polaridade positiva, implicando equilíbrio entre as tarefas de cognição e codificação: a expressão da irrealidade ou distanciamento da realidade via -ra é função menos frequente que a temporal, portanto, mais marcada, função codificada em contextos mais frequentes (os afirmativos), portanto, menos marcados. Decorre dessa análise a observação de que, nos usos modais do -ra, podemos aludir à irrealidade, independentemente de ser o enunciado afirmativo ou negativo.
We consider, in this research, the conjunctive function of the pluperfect. Our data comes from historical journals of the Institute of Ceará: thirteen from the period of 1944 to 1956 and thirteen ...from 2000 to 2012. In accordance with functionalist assumptions (modality, markedness and unidirectional change), we show data decrease from one synchrony to another besides contextual narrowing: it survives as a stylistic variant, mainly in counterfact conditionals (protasis-apodosis order) and comparative-conditionals (apodosis-protasis order), affirmative clauses, taking into connective and stative verb (fora), without time reference, in papers and in the first synchrony (1944-1956).
Resumo: Contemplamos, neste artigo, a função conjuntiva do pretérito mais-que-perfeito. Nossos dados provêm de revistas históricas do Instituto do Ceará: treze do período de 1944 a 1956 e treze do período de 2000 a 2012. À luz de pressupostos funcionalistas (modalidade, marcação e unidirecionalidade), evidenciamos redução de dados de uma sincronia a outra, além de estreitamento contextual: sobrevive como variante estilística, predominantemente, em construções contrafactuais, orações condicionais (em prótase-apódose) e comparativo-condicionais (em apódose-prótase), afirmativas, com conectivo explícito, com verbo de estado (fora), sem referência temporal explícita, no gênero artigo e na primeira sincronia (1944-1956).
Neste artigo, analisamos atividades referentes à variação na codificação do sistema temporal (tempo/aspecto/modo) em dois cadernos de exercícios da coleção Bem-Vindo (Calles et al; Burim e Medrado, ...2013). Das 23 questões sobre tempo/aspecto/modo do caderno para estudantes de origem latina, somente 04 dão margem a considerações sobre variação; já no caderno destinado aos estudantes de origem anglo-saxônica, há 07 atividades propícias ao tratamento da variação das 39 observadas. Do caderno destinado aos estudantes de origem latina, somente uma questão se volta estritamente à variação em perspectiva clássica (na acepção de mesmo significado referencial): variação entre imperativo versus infinitivo em atos de comando. Das outras três, embora valores temporais igualitários estejam em cena, há divergências aspectuais e/ou modais. No caderno para alunos de origem anglo-saxônica, há questões sobre forma simples versus composta do pretérito mais-que-perfeito; perfeito e imperfeito; presente do indicativo e futuro do pretérito; pretérito perfeito composto e presente do indicativo; formas de imperativo em função dos pronomes (tu x você); ser/estar auxiliares e particípio passado. Essas tendências de tratamento variacionista apontadas podem fomentar a elaboração de outros materiais didáticos, o que implicaria consonância com o que a literatura linguística tem evidenciado em descrições sobre fenômenos em variação.
Palavras-chave: Variação; Materiais Didáticos; Português Língua Estrangeira.
Com base em pressupostos e princípios da Linguística Funcional Centrada no Uso (Bybee 2010 e Furtado da Cunha et al. 2013), analisamos, neste artigo, a intercalação de Cláusulas Hipotáticas ...Circunstanciais Temporais em dados de 54 entrevistas do Corpus Sociolingüístico de la Ciudad de México (CSCM), tratando-a como uma categoria de protótipos. Os 514 dados revelam 13 types, entre os quais o exemplar Verbo auxiliar de perífrase (∆) Temporal (∆) Verbo principal de perífrase foi considerado o caso mais prototípico de intercalação de Temporais, com base em alta complexidade estrutural, baixa frequência token e baixa produtividade (frequência no type). Percebemos, também, que a função textual-discursiva mais típica das temporais intercaladas é guia/orientação circunstancial. Do ponto de vista cognitivo, os usos de cláusulas intercaladas, do protótipo à margem, são motivados por mecanismos que tendem a reduzir esforços de codificação, refletindo marcação, iconicidade (Givón 1995, 2001) e expressividade (Dubois e Votre 2012).
À luz de pressupostos sociofuncionalistas, apresentamos dilemas impostos ao pesquisador, especificamente aqueles voltados ao ponto de partida (da função para a forma ou vice-versa) e à noção de ...significado (referencial ou por domínio funcional). Conjecturas são então expostas visando à resolução desses dilemas no que se refere ao tratamento da função de antepretérito e das formas de pretérito mais-que-perfeito simples, haver/ter no imperfeito mais particípio neutro, pretérito anterior e pretérito perfeito simples. Na sequência, analisamos tal fenômeno, qualitativa e quantitativamente, em prosa histórica, literária, religiosa e jurídica do galego-português, considerando dados dos séculos XIII a XV, provenientes do Tesouro Medieval Informatizado da Língua Galega. A investigação comprova variação motivada por fatores referentes a tipo de verbo, marcador temporal, pessoa discursiva, tipo oracional, polaridade, presença de objeto (este grupo exclusivamente nos casos de haver/ter no imperfeito mais particípio neutro) e tipo de prosa, ao passo que evidencia processos de gramaticalização.
Nesta pesquisa, analisamos a variação sociolinguística entre as formas de tratamento de segunda pessoa, tú e usted, em 36 entrevistas extraídas do corpus PRESEVAL (Proyecto para el Estudio ...Sociolinguístico del Español de Valencia). As 1.286 ocorrências coletadas, sendo 1.185 relativas à variante tú e 101 à variante usted, foram analisadas estatisticamente no programa Goldvarb (2005) para detectarmos a incidência de motivações linguísticas (tipo referente e tipo de discurso) e extralinguísticas (idade, sexo e escolaridade). O programa selecionou como significativos os seguintes grupos de fatores: i) tipo de referente, com o fator indeterminado como favorecedor da variante tú; ii) faixa etária, grupo em que a forma tú foi predominante nos indivíduos da faixa etária mais jovem; iii) tipo de discurso, no qual a variante supracitada demonstrou ser condicionada por discurso reportado de terceiros. Os resultados, interpretados à luz de pressupostos sociofuncionalistas, relevam atuação de princípios cognitivos: marcação, expressividade retórica, iconicidade e especialização por generalização.
Neste artigo, abordamos a tradução dos pretéritos perfeito simples e perfeito composto do Espanhol ao Português, conjugando pressupostos advindos da tradução funcional, do Funcionalismo linguístico e ...da metodologia de sequência didática. Aplicamos a dois grupos de estudantes de Espanhol, falantes nativos de Português, a metodologia de sequência didática à tradução de um fragmento do conto “¡Diles que no me maten!”, de Juan Rulfo. Após contato prévio com o conto, os alunos procederam à primeira tradução; seguiram-se módulos referentes aos valores temporais, aspectuais e modais dos pretéritos sob análise; por fim, houve a segunda tradução. Os dados das duas traduções foram comparados visando a demonstrar que conhecimentos adquiridos sobre os valores temporais, aspectuais e modais, durante a sequência didática, permitiram aos alunos aprimoramento da tradução, tornando o texto meta o mais próximo possível do texto base. Verificamos, outrossim, que equívocos de tradução decorrem, basicamente, do fato de os estudantes, na tradução do pretérito perfeito composto do Espanhol ao simples do Português, não inserirem marcadores temporais, não optarem por perífrases imperfectivas e desconsiderarem possibilidade de interpretação irrealis.
Um retrato do pretérito mais-que-perfeito de 1887 a 2012 Coan, Márluce; Lima, Ester Vieira de; Sampaio, Mariana Freire
Revista de documentação de estudos em lingüística teórica e aplicada,
2019, Volume:
35, Issue:
2
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RESUMO À luz de pressupostos sociofuncionalistas, tratamos, neste artigo, dos pretéritos mais-que-perfeito simples e mais-que-perfeito composto em revistas históricas do Instituto do Ceará do período ...de 1887 a 2012, em volume textual de, aproximadamente, quinze mil páginas. Detectamos 6.238 ocorrências distribuídas em seis funções: passado do passado, passado em relação ao momento de fala, passado discursivo, desiderativa, conjuntiva e condicional. Dessas funções, a de passado do passado foi investigada em perspectiva variacionista, sendo a forma simples condicionada, de modo recorrente, por terceira pessoa discursiva e ausência de modificador verbal. Também motivam a forma simples os fatores gênero textual efemérides, verbo irregular e oração coordenada.
ABSTRACT Under the Sociofuncionalist approach, we deal in this article with simple and compound pluperfect in historical journals of the Institute of Ceará from 1887 to 2012, with a textual length of fifteen thousand pages approximately. We detected 6,238 occurrences distributed in six functions: past before another past, past before a speech reference, discursive past, desiderative, subjunctive and conditional. Of these, the past before another past was investigated in variationist perspective, being the simple form conditioned, on a recurrent way, by discursive third-person and absence of verbal modifier. Also motivate the simple form the factors ephemerides, irregular verb and coordinate clause.
Marcação de passado em cabo-verdiano Ferreira, Diltino; Coan, Márluce
Revista (Con)textos Linguísticos,
07/2023, Volume:
17, Issue:
36
Journal Article
Peer reviewed
Este artigo trata do uso ou não da morfologia verbal do português em cabo-verdiano, especificamente na codificação de situações passadas. Partimos do pressuposto de que algumas propriedades do ...sistema linguístico da língua portuguesa são inseridas na língua cabo-verdiana, considerando-se o contexto de bilinguismo e diglossia em Cabo Verbo, o que verificamos ao considerar dados escritos, provenientes da webpage https://www.dexamsabi.com, e orais, advindos do telejornal Cabo Verde Magazine. Observamos percentual maior de divergências, mantendo o cabo-verdiano sua morfologia aspectual para codificação de situações passadas, porém há morfologia suplantada, principalmente na codificação de situações imperfectivas e de situações perfectivas com particípio passado, o que conduz à caracterização do fenômeno como um caso de cruzamento linguístico.