A história LGBTI+ em Portugal identificou um ponto de inflexão nas continuidades pré e pós-Revolução dos Cravos: a publicação do manifesto do Movimento de Acção Homossexual Revolucionária (MAHR) no ...Diário de Lisboa a 13 de maio de 1974, e a sua subsequente condenação na intervenção televisiva do general Carlos Galvão de Melo a 27 de maio do mesmo ano. Este momento é tido como ditando o fim do MAHR e a rejeição da legitimidade das questões LGBTI+ no foro político. Este artigo convida a disputar a tese de uma Revolução incongruente no que diz respeito às sexualidades. Procuro inserir este episódio na genealogia das várias rejeições da Revolução para contextualizar as condições históricas que o explicam, bem como aliar a história do género e da sexualidade à das grandes transformações políticas, ilustrando a sua potencialidade analítica como mais do que mero complemento.
Este artigo propõe uma reflexão sobre as tensões e ambiguidades presentes na (re)construção da memória social e nas diferentes visões da história, em torno das quais se constroem futuros para o ...passado português. Em particular, analisámos as narrativas de 145 estudantes do ensino secundário em Portugal sobre a história do país. O 25 de Abril foi o principal marco histórico mencionado com referências ao fim do regime ditatorial, à luta pela liberdade e pela igualdade de oportunidades. Porém, não foram mencionadas as lutas pela libertação nacional dos povos outrora colonizados. Emergiram também reafirmações do passado glorioso e expansionista dos “Descobrimentos”, mitos historiográficos e invariantes culturais sobre o que significa “ser português”. Com isso, discute-se a importância de uma educação crítica e da descolonização da história, para que futuros alternativos possam emergir dissociados de valores de dominação.
Quanta distância cabe em 50 anos? A pergunta contém uma das indagações mais cultivadas pelas ciências sociais e humanas e, muito particularmente, por uma certa historiografia clássica: a de saber ...quanto tempo necessitamos deixar transcorrer para que um evento se torne inteligível. Numa perspetiva de matriz positivista, quanto mais distante um acontecimento se encontra de quem o perscruta, mais seria objetivável. Postas as coisas deste modo, esquecemo-nos que história e memória não são domíni...
Este artigo procura refletir sobre as dinâmicas de desconstrução do enquadramento sociojurídico do trabalho e de vulnerabilização do seu estatuto na sociedade portuguesa nas últimas décadas. Para ...isso, identifica e caracteriza os diferentes períodos de regulação laboral desde o 25 de Abril até à atualidade, apresentando uma leitura diacrónica das principais disputas e mudanças normativas. Num segundo momento, aponta transformações na estrutura do emprego e sistematiza as vias mais relevantes de fragilização do trabalho – a profusão de modalidades precárias de emprego, os “usos alternativos” da lei, a clandestinização e a não remuneração do trabalho, a exposição às flutuações do mercado, a deslaboralização e a debilitação da contratação coletiva. Pretende-se assim contribuir para pensar o trabalho hoje, entre as promessas de Abril e a regulação neoliberal.
A Revolução portuguesa, além de uma consequência lógica dos últimos 15 anos da ditadura salazarista (guerra, migrações, urbanização, desruralização, feminização da esfera pública), deve ser lida no ...contexto da nova cultura política que, desde o final dos anos 1950 (emancipalismo anticolonial, Revolução cubana, 1968), deu às esquerdas um impulso que tem pouco a ver com o arranque de uma terceira vaga de democratização, como a define Samuel Huntington, e das transições negociadas e de génese liberal-democrática muito diferentes da rutura política e social que ocorreu no país. O exemplo mais estudado desta terceira vaga é o caso espanhol. Neste artigo, discuto a comparação que de forma mais ou menos sistemática se tem feito entre a Revolução portuguesa e a Transição espanhola, a primeira tomada como contramodelo positivo da segunda a partir dos argumentos binários como moderação/radicalidade, violência/reconciliação, negociação/rutura.
A música angolana enquanto repertório de resistência ao sistema colonial beneficiou da trajetória europeia de alguns dos seus intérpretes. Neste artigo questiona-se a não inclusão destes artistas ...como cantores de Abril, o seu não reconhecimento na memória historiográfica do período que permeia a Revolução dos Cravos. Exploram-se possíveis explicações para isso, cotejando as memórias e o passado dos músicos com o tratamento conferido às figuras mais influentes das culturas portuguesa e angolana nos dicionários sobre o Estado Novo e o 25 de Abril. Identificam-se, além das causas possíveis para estas ausências, o pensamento eurocêntrico que subjaz a algumas das presenças, e contra-argumenta-se no sentido da razoabilidade da sua inclusão dentro das categorias associadas à música de protesto.
O 25 de Abril de 1974 e a PIDE/DGS Pimentel, Irene Flunser
Revista Crítica de Ciências Sociais,
05/2024, Letnik:
133, Številka:
133
Journal Article
Recenzirano
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Porque possibilitou a Polícia Internacional e de Defesa do Estado/Direcção-Geral de Segurança (PIDE/DGS) a eclosão do golpe militar, em 25 de Abril de 1974? Quais foram os motivos para que a sede ...dessa polícia política não tivesse sido um dos primeiros alvos do Movimento das Forças Armadas nessa data que marcou o fim do regime ditatorial português? Este texto propõe-se responder a estas perguntas, abordando esse episódio menos conhecido da tomada da sede da polícia política nessa data libertadora, revelador de que, como sempre acontece num acontecimento de ruptura, terá havido diversos objectivos no golpe militar de 25 de Abril. E, no entanto, a tomada da sede da PIDE/DGS, só na manhã de 26 de Abril de 1974, marcaria o início de um processo revolucionário em Portugal.
La revuelta social chilena de octubre del 2019 levantó la hipótesis de la emergencia de un nuevo sujeto político. En este marco, este trabajo busca comprender la relación entre la reconfiguración de ...subjetividades políticas y las dinámicas de articulación territorial. Para ello, analiza el discurso de 56 dirigentes sociales de Valparaíso, en Chile. El análisis muestra que las dinámicas de articulación territorial se vinculan con los procesos de reconstrucción de subjetividades políticas accionando mediaciones de orden material, simbólico y afectivo. Se concluye que la construcción de un nuevo sujeto político es parte de una disputa por la hegemonía centrada en la necesidad de superar la subjetividad neoliberal.